Texto : Luisa Mendes Fotografia: Luisa Mendes e Fundação Claude Monet
Quase tudo já foi dito e análises exaustivas feitas em relação a este pintor que cativou admiradores e colecionadores em todo o mundo, mas não restam dúvidas, a sua obra vastíssima transmite-nos algo de belo, seja na pintura seja nos jardins que construiu.
A luz na natureza a grande impulsionadora da obra de Monet.
Monet corria atrás da luz e queria trabalhar sempre no exterior. Não é indiferente o facto de sobre o mesmo motivo, ter mais de 30 telas pintadas a várias alturas do dia, como é o caso da Catedral de Rouen.
Tinha uma necessidade inata de criar e procurar a beleza, a pintura era a sua forma de atingir e transmitir a felicidade. A compreensão da natureza e o amor à arte são fontes diárias de felicidade e os jardins de Giverny são como um laboratório para a conservação e criação.
Quando o óleo sobre tela “Impressão, Nascer do Sol” foi apresentado em 1872 abriu-se uma porta na história da arte. É assim que nasce a corrente artística do Impressionismo que depois se estendeu também à música (Claude Debussy e Maurice Ravel) e à literatura. Monet rompe com a academia vigente, pintura realista e virada para o passado e trilha o seu percurso evoluindo para a modernidade, depois seguido por artistas como Paul Cézanne, Édouard Manet, Pierre-Auguste Renoir, Alfred Sisley…com quem privava e mais tarde influenciando muitos outros como Kadinsky ou Jackson Pollock…
A sua casa era também residência de artistas com quem Monet partilhava as suas “impressões”.
São sobretudo os jardins da sua casa em Giverny na Normandia que aqui vos deixo numa visita há cerca de 7 anos e num dia de chuva.
Confesso que desde sempre sonhava visitar estes jardins. Surgiu a oportunidade e a visita decorreu num dia de Maio chuvoso, mas a sensação é de estarmos dentro duma verdadeira obra de arte.
Foi essa a intenção do artista que literalmente construiu o “objeto” da sua pintura que se funde nela.
A visita a diversos jardins Botânicos, produtores de plantas, a exposições e à Holanda serviram de inspiração para a criação das florações que vemos na propriedade em Giverny
Eram 7 os jardineiros que cuidavam do espaço e ao longo de 12 meses enquanto Monet foi vivo.
“En dehors de la peinture eu du jardinage, je ne suis bon à rien!”
Para além da pintura e da jardinagem não sou bom em nada!
“Ah se não fosse pintor teria sido botânico”
A Casa e os Jardins em Giverny funcionam como um todo. Aqui foi criada a casa ideal para o pintor e a sua família (os dois filhos do primeiro casamento e os seis filhos do segundo casamento com Alice Hoschedé), um paraíso protegido do mundo exterior e rodeado pelo campo que Monet tanto apreciava. Monet foi igualmente considerado um dos precursores do conceito Slow Food. O seu gosto pela gastronomia dos diversos países, o cuidado na composição de cada uma das refeições, a utilização das especiarias, a rigidez nos horários em que deviam ser tomadas, faziam parte do seu quotidiano, de toda a família e convidados.
Foi também aqui que ganhou o reconhecimento como artista de grande craveira depois de ter sido rejeitado durante anos. A casa de Monet não é um local de peregrinação, apesar dos 600 000 visitantes ano, é uma casa de família e o ambiente de vida quotidiana é transmitido ao visitante.
A propriedade integra dois jardins, o Clos Normand e o Jardim d’Água, que merecem visitas em diferentes alturas do ano. As florações foram pensadas de forma intencional para que ao longo das estações em que é possível visitar (Primavera, Verão e Outono), os jardins tenham motivos de interesse e sobretudo muita cor. De abril a outubro uma sucessão de flores anuais ou bianuais, as perenes, os nenúfares, bolbos floridos, rosas, peónias, túlipas…são milhares de plantas e variedades que mantêm um intenso ritmo de floração. A cor e a água reinam neste espaço que Monet tanto amava.
O Jardim d’Água que Monet considerava a sua obra de arte foi o que implicou um desenho mais radical. Numa primeira fase o pequeno rio Epte passava na propriedade e seguia livre até ao Sena, no entanto Monet pediu autorização para que parte deste pequeno rio fosse desviado – o Rû, permitindo a criação dos pequenos lagos que vemos hoje. A partir desta paisagem aquática criada, Monet acrescentou os salgueiros, a parede de bambo e as bordaduras de rododendros ao longo dos caminhos. Foi este o momento da plantação dos nenúfares, cujas raízes flutuantes suportam as grandes folhas e flores brancas, rosas, verdes e malvas. Infelizmente aquando da nossa visita as flores não emergiram. Na realidade a temperatura da água tem que estar acima dos 16° para que tal aconteça. As suas pinturas Grandes Decorações de Nenúfares marcaram o início da pintura abstrata no século XX e as telas doadas pelo pintor estão expostas, de acordo com o deliberado pelo autor, no Museu L’Orangerie nas Tulherias e, como não podia deixar de ser, com uma profusão de luz natural. Estas pinturas foram executadas ainda durante a 1ª guerra mundial e apesar do caos em que estava a Europa e da proximidade do conflito Monet manteve-se sempre a trabalhar. A doação destas pinturas foi também uma homenagem a todos os que participaram no conflito defendendo a França. Georges Clémenceau, o grande estadista francês e primeiro-ministro na altura foi grande amigo de Monet desde os tempos de juventude, bem como o responsável pela instalação destas no museu em 1927. Clémenceau permaneceu muito próximo de Monet até ao fim da sua vida
Com a morte de Monet a propriedade é cuidada pela filha e jardineiros, mas a partir de 1947 existe um período de abandono.
Michel Monet, filho de Claude Monet, falecido em 1966, deixou em testamento a propriedade de Giverny à Academia de Belas Artes.Começou a ser restaurada a partir de 1977 com a supervisão de Gérald Van der Kemp membro da Academia e que também tinha estado envolvido na recuperação do Palácio de Versailles. Os jardins abriram finalmente ao público em 1980.
A Fundação Claude Monet foi criada em 1989 e tem sido presidida por Hugues R. Gall desde 2008.
Todos os jardineiros, voluntários e guias que trabalham na casa e jardins de Monet em Giverny têm um amor especial pelo espaço. A própria aldeia de Giverny e o campo que rodeia esta localidade contribuem para esta unidade de beleza e todos trabalham em conjunto para receber os visitantes. É também um espaço que recebe jardineiros de todo o mundo, os jardins funcionam como um laboratório de conservação e criação.
Fundação Claude Monet Giverny
Rua Claude Monet, 84 – 27620 Giverny
Tel : + 33 (0)2 32 51 28 21 / Fax : + 33 (0)2 32 51 54 18
www.claude-monet-giverny.fr
contact@fondation-monet.com
Horário : todos os dias
de 1 de Abril a 1 de Novembro
das 09.30 às 18.00