Muitos dizem que não conseguem lidar bem com plantas. Logo elas, sempre ali, estáticas, a produzir o próprio alimento, sem exigir nada de nós além de luz e água, que nos tornamos seus tutores a partir do momento em que as colocamos num vaso dentro de nossas casas. Há os que dizem que não conseguem cuidar, regar, acertar com o local ideal, não obtém as desejadas flores ou frutos…, mas a verdade é que esses seres vegetais comunicam as suas necessidades o tempo todo. Sim, é verdade, através de comportamentos e estratégias de sobrevivência singulares e muitas vezes curiosas, as plantas mostram-nos exatamente do que precisam. Um exemplo clássico: o Lírio-da-paz (Spathiphyllum), quando tem sede é muito claro na sua encenação quase dramática, as suas folhas murcham, ficam todas para baixo e, desavisados, podemos até achar que a pobre planta está padecendo, mas ao serem regados nesse estado, é interessante observar que dentro de poucas horas ele já está altivo e vivaz novamente, como se nada tivesse acontecido. Dentro do universo da jardinagem, ele poderia ser um ótimo ator.
Muitas plantas do género das Calatheas, aquelas que tem diversos padrões de folhagem, que parecem verdadeiras pinturas, fazem o oposto do Lírio-da-paz. Ao entardecer, quando o sol se põe, essas plantas elevam as suas folhas, como quem está se recolhendo após um dia de fotossíntese intenso. É um comportamento natural de fototropismo (movimentação da planta mediada pela presença da luz) mas, caso seja observado fora do ciclo normal do dia e da noite, pode ser um indicativo de falta ou excesso de luminosidade para as Calatheas. E elas também tem seu jeito próprio de mostrar que estão sedentas por rega: enrolam as suas folhas. Isso para diminuir sua área de superfície que é exposta ao sol, perdendo assim, menos água. Nota 10 em matéria de economia.
Para quem é novato no mundo da jardinagem, catus e suculentas são sempre os mais recomendados para iniciar uma coleção de plantas. E isso tem um motivo evidente: essas plantas são à prova de descuido. Elas passaram no teste dos tutores distraídos e esquecidos. Praticamente não precisam de poda, são naturalmente de solos mais pobres, o que faz com que não sejam muito exigentes na frequência de fertilização, e o melhor de tudo: guardam muita água dentro de si. Esse detalhe é importante pois, dessa maneira, as suculentas não requerem tanta rega, às vezes, essa pode ser feita semanalmente ou ainda mais intervalada. Neste caso então, a atenção deve ser redobrada para não exagerar na irrigação, elas mostram claramente quando isso acontece perdendo muitas folhas e apodrecendo rapidamente. Algumas do género das Euphorbias, por exemplo, passam meses sem reclamarem da falta de um copo d´água. Resultado de uma genética toda moldada para resistirem às temperaturas escaldantes das áreas desérticas.
Por falar em genética e origens, conhecer um pouco mais sobre esses temas acerca das plantas que se tem em casa, é fundamental para aprender a cuidar bem delas. Isso porque o local de onde uma planta é originária diz muito sobre as suas necessidades, acredite.
Todos já ouviram dizer que fetos e samambaias gostam de estar à sombra, mas no calor. Pois bem, nas florestas tropicais de onde elas são advindas, essas plantas, que são classificadas como criptógamas (sem flores e frutos), sempre ficam nas primeiras camadas da vegetação, à sombra de grandes árvores. Mas porquê então o sítio deve ser quente? Ora, ainda que elas não atinjam grande porte para estarem expostas diretamente ao sol, o clima ao qual estão adaptadas é tropical, isto é, altas temperaturas na maior parte do tempo. Portanto, para essas, a combinação ideal não há como esquecer: sombra + calor, e ela ficará feliz da vida.
Plantas são sim silenciosas e imóveis, mas comunicam com o meio ambiente ao seu redor de uma maneira tão eficaz quanto foram capazes de evoluir. Falam um idioma que tão facilmente compreendemos conforme as observamos e estudamos. Sem grandes mistérios, mas com imensa beleza contam com a nossa sensibilidade para percebermos seu comportamento e suas necessidades, na melhor tradução possível para “um gesto vale sim mais do que mil palavras”.
A autora Ingrid Brock colabora com a Revista Tudo Sobre Jardins desde 2021. Brasileira e vive em Portugal há quatro anos. Bióloga, cursa mestrado em Engenharia Agronômica, estuda, observa e escreve sobre as plantas ornamentais.