via da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC)
O relatório “Kew’s State of the World’s Plants and Fungi 2020” do Jardim Botânico Real de Kew (RBG, Kew), no Reino Unido, publicado no final do mês de Setembro, tem a participação da investigadora Susana C. Gonçalves, do Centro de Ecologia Funcional (Centre for Functional Ecology – Science for People & the Planet), da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC).
Este relatório de referência internacional, que vai já na quarta edição, é um mergulho profundo no estado atual do reino das plantas e do reino dos fungos à escala global. Os novos dados, resultado de uma vasta e inédita colaboração internacional entre 210 cientistas de 42 países, mostram como nós atualmente utilizamos plantas e fungos, quais as propriedades úteis que nos faltam explorar, e o que corremos o risco de perder.
Susana C. Gonçalves
Segundo o documento, «plantas e fungos são os blocos de construção da vida no planeta Terra. Têm o potencial de resolver problemas urgentes que ameaçam a vida humana, mas esses recursos vitais estão a ser comprometidos pela perda de biodiversidade». O relatório alerta para a necessidade premente de «explorar as soluções que as plantas e fungos podem fornecer para lidar com algumas das pressões que as pessoas e o planeta enfrentam».
Este relatório apresenta pela primeira vez uma síntese de novas espécies para a ciência compilada tanto para plantas como para fungos. Os autores descobriram que 1.942 plantas e 1.886 fungos foram nomeados como novos para a ciência em 2019. Entre essas, estão espécies que podem ser valiosas como alimentos, bebidas, medicamentos ou fibras.
A cientista Susana C. Gonçalves participa em dois capítulos do relatório: um dedicado à importância das colaborações para assegurar um futuro sustentável para todos e outro que avalia o risco de extinção de plantas e fungos.
No capítulo que realça a importância das colaborações para assegurar um futuro sustentável para todos, a investigadora partilha o trabalho de conservação que está a ser desenvolvido em São Tomé e Príncipe no âmbito do projeto “Tesouros d’Obô”. A par da inventariação da diversidade de cogumelos, o projeto trabalha com as comunidades locais para valorizar e gerir de forma sustentável estes recursos, melhorando simultaneamente a sua qualidade de vida. «Esta abordagem centrada nas comunidades, só possível com as parcerias existentes, está a abrir caminho para uma solução duradoura na conservação da floresta e dos fungos em São Tomé e Príncipe», conta Susana C. Gonçalves.
No que respeita à avaliação do risco de extinção de plantas e fungos, que enfatiza as lacunas e enviesamentos no conhecimento atual e que comprometem medidas de conservação eficazes, a investigadora da UC, que também é avaliadora do risco de extinção de fungos para a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), indica o muito trabalho ainda por fazer: «Apenas 285 das 148,000 espécies conhecidas de fungos foram avaliadas para a Lista Vermelha da IUCN, correspondendo somente a 0,2 %». Por isso, salienta que a «Ciência Cidadã e ferramentas como a modelação e a inteligência artificial podem contribuir de forma determinante para acelerar este processo».
Quando questionada sobre as ações que podem ser dinamizadas pelos cidadãos individualmente para proteger a biodiversidade fúngica do planeta, Susana C. Gonçalves contextualiza: «se quisermos trazer a conservação dos fungos para o primeiro plano, temos de desmistificar conceitos errados que persistem em toda a sociedade, por exemplo, os fungos ainda são muitas vezes confundidos com plantas ou retratados erroneamente como inimigos, e precisamos de desafiar a indiferença em relação aos fungos. Em última análise, só nos preocupamos em proteger o que amamos».
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