Quando a raridade está relacionada com a beleza, costumamos dizer que estamos diante de algo exótico. Ser exótico é ser diferente, no sentido mais positivo que essa característica pode ter. Sim, porque quanto mais destaque, mais fascínio temos. E é difícil pensar em plantas exóticas e não nos lembrarmos de grandes e milenares árvores, que, com características únicas, sumptuosas e que evidenciam as suas belezas, acabam por nos encantar a todos.
Para começar com um exemplo emblemático: o Baobá, ou Embondeiro (Adansnonia Digitata).
Árvore símbolo das savanas, já serviu de inspiração para as mais variadas artes – da literatura ao cinema – e está até na origem de algumas lendas dentro da cultura africana. No continente-mãe, inclusive, é muito popular. Porém, o seu exotismo está relacionado mesmo com a sua magnífica forma. O baobá é uma planta da família Malvaceae, a mesma dos hibiscos, que perde as folhas durante boa parte do ano. É uma grande árvore que pode atingir facilmente 25 metros de altura, e acredita-se que existam exemplares com mais de 6 mil anos, razão pela qual é conhecida como “árvore da vida”. Mas nenhuma dessas características são tão distintas quanto os 11 metros de diâmetro de seu tronco! E ele ainda tem formato tortuoso que vai afinando no sentido da base para a copa, dando ao baobá uma silhueta única e muito vistosa. Tanto tronco, que é oco, possui a função de armazenamento de água. É impossível ficar indiferente aos pés de um baobá adulto, gigante e singular.
E em matéria de chamar atenção, outra representante à altura do Baobá. Ou melhor, em termos de altura, é até maior.
A Figueira-estranguladora ou Figueira-da-austrália (Ficcus macrophylla) pode chegar aos 35 metros, embora não seja frequente encontrar exemplares, mesmo os já seculares, com mais de 30. Agrupada na família Moraceae, essa figueira da Oceânia destaca-se pelas incríveis raízes aéreas que possui. Essas estruturas lenhificam à medida que entram em contacto com o solo e servem para dar apoio e sustentação à imensa copa da árvore. As raízes aéreas agregam-se então ao tronco da planta, que dessa forma pode chegar aos 20 metros de diâmetro. Em Portugal, a Ficcus Macrophylla pode ser vista em alguns lugares, como o Jardim Botânico Tropical, em Lisboa e o Jardim Botânico de Coimbra.
Já proveniente dos arquipélagos da Madeira, Canárias, Cabo Verde e Açores, o Dragoeiro (Dracaena draco) é uma árvore considerada por muitos quase sobrenatural.
A própria etimologia do seu nome já revela a sua origem mística. Dracaena vem do grego drakaira, ou dragão feminino, e draco em latim significa dragão. Contava-se nas lendas que a planta teria surgido a partir do sangue de Ládon, um dragão de cem cabeças. Histórias à parte, o Dragoeiro é também uma grande árvore que pode crescer até 20 metros de altura. A sua peculiaridade está na sua copa em formato de guarda-sol, de 4 a 15 metros de diâmetro que dá à planta na fase adulta, um aspeto realmente diferenciado. O tronco cinza e a seiva, que ao oxidar forma uma resina vermelha, também contribuem para o seu exotismo. Em Portugal é muito admirada no Jardim Botânico da Ajuda, em Lisboa.
É possível concluir que, na natureza, ser diferente é realmente excecional. Pode não ser sempre uma vantagem, mas é sempre simbólico e impactante.
Plantas como as citadas aqui são verdadeiras inspirações para poetas, compositores, escritores, e contribuem para o enriquecimento da cultura de um povo. E pensar que tudo devido a uma beleza particular, original e criativa. As formas diferenciadas têm funções específicas para as árvores, mas, para nós, menos pragmáticos, elas acabam mesmo por ficar na memória e originar boas histórias. Ser exótico tem muito valor.
A autora Ingrid Brock colabora com a Revista Tudo Sobre Jardins desde 2021. Brasileira e vive em Portugal há cinco anos. Bióloga, cursa mestrado em Engenharia Agronômica, estuda, observa e escreve sobre as plantas ornamentais.