Quando o mês de junho chega, traz consigo boas e antigas tradições portuguesas. A temperatura é alta e o tempo é de festa, festa de São João! Há comemorações de norte a sul do país, bandeirolas espalhadas por todos os cantos, cantigas e quadras típicas, sardinhas assadas perfumam as casas, martelinhos que pulam de cabeça em cabeça, e, no meio de tantos hábitos característicos nesta época, um modesto, porém carismático coadjuvante encanta os que com ele são presenteados: o manjerico. Sim, um vasinho do que é conhecido no mundo botânico como Ocimum minimum, é a prenda mais mimosa oferecida nessa festividade tão quente, divertida e colorida.
Segundo a tradição, presentear com manjerico significa amor. Outrora muito utilizado como símbolo dos namorados, oferecer um à pessoa amada era quase como fazer um pedido ou um voto. Atualmente é distribuído por todos aqueles que desejam participar da festa em todas as suas expressões. Que bom! De origem indiana, o manjerico é uma erva aromática do mesmo género do manjericão (Ocimum basilicum), e assim como seu famoso parente botânico, tem um ciclo de vida anual, atingindo o auge da sua beleza verde, pomposa e brilhante na Primavera do hemisfério norte. Essa é a época em que ele está pronto para ser envasado e oferecido. É por isso que não deve sentir-se dececionado quando, ao acabar o Outono, o seu presente de São João demonstrar sinais de que está chegando ao fim da vida. Nesta fase cumpriu o ciclo, e as sementes já podem ser preparadas depois do início do Inverno, para que tudo recomece.
Contudo, é natural que os manjericos não durem tantos meses na casa das pessoas que o utilizam em decoração durante as festas em junho, pois, como quase todas as aromáticas, trata-se de uma planta sensível, que precisa de especiais cuidados nos dias quentes, não podendo ter sua rega esquecida sob nenhuma hipótese. Necessita de muita luz, mas acima de tudo, de atenção. Tratá-lo como se fizesse parte da horta caseira é a melhor maneira de garantir sua longevidade cíclica.
Por falar em horta, ao contrário do que muitos pensam, o manjerico também é comestível, e tem, inclusive, propriedades medicinais. Na culinária das regiões do médio oriente e também em Itália o Ocimum minimum é tempero conhecido há tempos. Funciona também como repelente de insetos, sendo, por vezes, menos atacado que o próprio manjericão. Reforçando a plasticidade do seu uso, também é empregue como erva medicinal e fornece resultados benéficos contra problemas intestinais, gripes e constipações. Tudo isso sem mencionar a sua característica talvez mais aclamada pelos amantes das festas de São João: o aroma singular. Sim, pode usufruir à vontade do seu irresistível cheiro, todavia se for dos mais supersticiosos, faça-o passando as mãos, só por precaução.
Quem diria que uma singela planta aromática tivesse tantos predicados. É adorno, é comida, é remédio, e é claro, amor. Amor simbolizado e plantado num pequeno vaso de barro que ao exalar o seu perfume é capaz de nos remeter ao melhor das tradições populares: simplicidade e afeto. Viva São João! Viva o manjerico!
A autora Ingrid Brock colabora com a Revista Tudo Sobre Jardins desde 2021. Brasileira e vive em Portugal há cinco anos. Bióloga, cursa mestrado em Engenharia Agronômica, estuda, observa e escreve sobre as plantas ornamentais.