Simples, mas vistosa. Grande, mas nem tanto. De tradição milenar, e ao mesmo tempo tão atual. A árvore de Oliveira (Olea europaea, para os mais conhecedores) é daquelas plantas simbólicas e fascinantes que angaria admiradores onde é tradicionalmente cultivada, não há séculos, mas segundo a História, há milénios. Sim, a Oliveira, planta que dá como fruto a azeitona e que é utilizada na fabricação de azeite, é velha conhecida do homem. A sua história em conjunto com a espécie humana remonta do início dos primeiros grupos pré-históricos que começaram a dominar a agricultura como meio de produção e de sobrevivência, há cerca de 5 mil anos. Civilizações antigas, como a egípcia e a grega, já extraíam o óleo das azeitonas para que fosse utilizado como remédio, alimento e combustível.
Mas não é só por um passado longínquo que se dá o encanto por essas árvores tão populares e até hoje economicamente importantes. Outrora essencial na aprendizagem do homem durante o início da agricultura, hoje adquire até o estatuto de “queridinha” dos jardins domésticos por toda a Europa, principalmente nos países de clima mediterrâneo, o ideal para seu crescimento e desenvolvimento completo. E faz todo o sentido, a sua origem é justamente a partir da Bacia do Mediterrâneo que abrange tanto o sul da Europa (grande parte do centro e leste) como o norte da África.
Forte, robusta e resistente, em Portugal largamente cultivada, conforme já mencionado, como árvore ornamental, ela, que está presente em quintais de norte a sul do país, ultrapassa climas diferenciados ao longo do ano quando as quatro estações atingem temperaturas muito distintas, mostrando-se preparada para a sobrevivência não só nos Olivais de campos abertos e quentes do Alentejo, como também num pacato jardim na região norte, onde os termómetros no inverno podem chegar a marcar 2°C ou menos.
É uma fortaleza em forma de tronco e ramos que após cerca de aproximadamente 5 anos vão começar a dar azeitonas para a colheita. A resiliência é mais uma das suas inúmeras virtudes, isto é, vai bem em vaso ou plantada diretamente no jardim, com a manutenção correta e assertiva troca de vasos, perdura por décadas, também em espaços privados.
As folhas são persistentes, embora se sofrerem muito com as baixas temperaturas, podem responder de forma desastrosa, porém nunca acabam por completo. As flores, normalmente brancas ou amarelas, podem ser hermafroditas e a auto polinização é comum (porém não acontece em todos os cultivares), sendo o vento o principal agente responsável por esse processo.
Portugal é o oitavo maior produtor de azeite do mundo (Espanha é o primeiro) e a qualidade desse produto lusitano é reconhecida e valorizada há muito tempo. É também em terras portuguesas que acredita-se existir a Oliveira mais antiga, com quase 3 mil anos de idade, isso mesmo, além de tudo, essa planta da mesma família dos jasmins (género Jasminum), também é das mais duradouras.
Toda essa imponência e tradição acaba por gerar um sentimento de pertença nos europeus de origem ibérica. A Oliveira parece mesmo pertencer às suas tradições mais remotas, estando presente na história desses povos há tanto tempo que, de facto, nos dias de hoje seria difícil dissociar a famosa planta da cultura pioneira e antiga do velho continente. Uma ótima forma de constatar essa identidade é pela enorme procura que a Olea europaea tem nos Centros de Jardinagem de todo o país. Alguns querem uma pequena muda para que seja cuidada por várias gerações dentro de uma mesma família, outros já desejam logo uma crescida, com algumas várias décadas de vida, para ser colocada em lugar de destaque no jardim no meio de outras flores e plantas sazonais, que, com sorte, sobreviverão algumas estações.
Quando se torna comum querer ter em casa um exemplar de uma árvore tão simbólica e fundamental economicamente, talvez seja porque o resgate da cultura é sentimento presente e coletivo na vida contemporânea. Longeva, forte e virtuosa. Essa é a majestosa Oliveira, árvore que dá frutos consumidos há muito por tantos, e que já passou por diversas dinastias, reinados e revoluções. A sua importância sendo resinificada ao longo de séculos não deixa dúvidas de que ela permanece consolidada. Dos extensos Olivais ao mais intimista dos jardins, conferindo à paisagem ares de familiaridade, discretamente reinando. Vida longa à rainha!
Foto: Vasco de Melo Gonçalves
Uma das Oliveiras Milenares no Hotel Rural Horta da Moura em Monsaraz. Uma delas com 2450 anos
A autora é brasileira e vive em Portugal há cinco anos. Bióloga, mestrado em Engenharia Agronómica, estuda, observa e escreve sobre as plantas ornamentais.