Com o nome da família ligado ao local desde o séc. XII, a construção da casa data de finais do séc. XVII início do séc. XVIII, e mantém ainda hoje a sua traça original. Todo este espaço é uma unidade diversificada, classificada como Jardim Histórico. Com cantos e recantos, desde jardins, hortas, pomares, vinhas, souto de castanheiros com pequena mata clássica, tem tido transformações próprias inerentes à evolução da natureza e outras por acção de Francisco Silva de Calheiros e Menezes, actual representante da família, com quem tivemos o prazer de conversar e saber qual o projecto por detrás deste lugar tão emblemático com vista lindíssima para o Rio Lima.
13 Hectares constitui a área total da Quinta do Paço de Calheiros dentro de muros altos com cerca de 5m. A área de vinha é significativa e onde se produz uva para o vinho verde. À roda da casa ficaram as latadas com videiras antigas de tinto já estabilizadas e com muita maturidade e segundo nos confidenciou “muito difíceis de conseguir. A Quinta ainda não tem rótulo próprio mas estamos neste momento a trabalhar para isso. Estamos a construir a infra-estrutura adega, sendo um projecto para um futuro próximo”.
Outro aspecto que define o carácter do espaço é a água, são inúmeras as fontes, tanques e lagoas onde predomina o granito. A água constitui um “personagem” forte marcando a ambiência tanto visual como sonora.
O projecto de vida de Francisco Calheiros e em que o Paço de Calheiros acaba por ter um papel fundamental, chama-se Turihab-Associação Solares de Portugal que teve a sua origem precisamente aqui. Detentora da Marca Solares de Portugal, são 100 as casas que integram a Associação classificadas entre Casas Antigas, Quintas e Herdades e Casas Rústicas vocacionadas para um turismo de habitação.
Francisco Calheiros
Segundo Francisco Calheiros: “Esta Associação por sua vez está ligada em rede a outras congéneres europeias em Espanha, França, Itália, Inglaterra, Irlanda, Eslovénia, Alemanha, Hungria… e ás fazendas no Brasil. Tem sido um trabalho ciclópico ao longo dos últimos 20 anos mas na realidade fomos pioneiros e a projecção que a associação tem no exterior é já muito significativa”.
E como surge esta ideia de turismo de habitação?
A pós o meu regresso do Brasil, comecei a pensar nesta possibilidade ainda o meu pai era vivo. Isto motivado pelo facto da produção agrícola já não ser suficiente para manter o espaço como tinha acontecido até então. Em 1980 tiveram início obras de remodelação que duraram cerca de 6 anos. A parte baixa da casa onde outrora se armazenaram produtos agrícolas foi transformada em quartos, as antigas cavalariças em apartamentos, criam-se espaços para provas de vinhos e para estábulos. Ao longo dos anos a casa tem vindo a adaptar-se a novas procuras por parte de quem nos visita e temos também que estar preparados para uma oferta diversificada. Desde a piscina ao court de ténis, que são os equipamentos de base, mas também começamos a pensar já na hipótese duma sauna ou duma piscina coberta e jacuzzi.
Tentamos adaptar os espaços no exterior e onde construímos algumas infra-estruturas por exemplo para lições de culinária onde são utilizados os produtos da horta, temos grupos de americanos que gostam imenso deste tipo de programas.
Vamos também começar a fazer o nosso pão com o milho cultivado por nós.
A casa, considerado um típico solar minhoto, integra um jardim do século XVII com buxo e árvores de fruto. No final do século XIX surge o jardim labiríntico em frente à casa. Nas áleas de acesso são as acácias austrália que nos envolvem até chegar ao terreiro dominado por quatro Magnolias grandiflora.
Intervenções recentes no espaço exterior? Tem tido ajuda de arquitectos paisagistas para o efeito?
Nos últimos 5 anos criámos dois patamares que foram muito ponderados
Intervencionar no espaço exterior é muito mais difícil do que mexer na casa e na sua decoração. Tem que ser tudo muito bem pensado porque se não temos cuidado as intervenções podem ser desastrosas. Não podemos esquecer que estamos a mexer no equilíbrio e nas proporções de todo um conjunto que está distribuído em socalcos. Uma das pessoas que me aconselhou foi o Arqt.o Ribeiro Telles, por exemplo relativamente à pérgola que estava num desses patamares e a opção foi mantê-la, substituindo a videira por maracujá. Não retirou o efeito anterior constitui uma passagem e é local de sombra e acolhimento, na realidade ficou perfeito. Tudo o que se tem acrescentado tem sido em continuidade e feito com muito cuidado.
Houve também uma altura que pensei colocar umas escadas ao centro mas tive os bons conselhos de um amigo arquitecto italiano que sugeriu criar antes escadas laterais no seguimento das torres da casa, o que convida a circular de outra forma.
Com estas transformações ao nível exterior conseguimos aumentar o espaço de jardim harmonizando a proporção em relação á casa”.
À volta de toda a quinta existe um caminho por onde se pode circular e que percorre a vinha, o souto de castanheiros, lagoas, vinha em latada, jardins em patamar, até ao terreiro. Na parte de cima encontramos os jardins novos onde se encontra a piscina e o ténis bem como as áreas de lazer.
E a manutenção de tudo isto como se processa?
Contamos com uma equipa de 7 pessoas cuja polivalência permite que tudo funcione. Se é necessário trabalhar no interior todos aí se concentram se é necessário vindimar é para o exterior que vão. E devo confessar que é uma fórmula que funciona. Temos que entender este espaço como uma entidade viva e que precisa que tomemos conta dela porque se o fizermos ela também vai tomar conta de nós.
A ideia de perspectivar a casa enquanto projecto intrinsecamente ligada á aldeia de Calheiros e por sua vez á própria região e mais para além numa perspectiva nacional e europeia acabou por ser a base do conceito subjacente a toda esta rede e que teve a sua origem no Paço de Calheiros. Também a minha função durante 20 anos como Presidente da Junta de Freguesia criou toda uma envolvência com esta região que no fundo era intrínseca à família.
Na realidade e olhando para trás já o meu avô há 100 anos fazia postais da casa e saíam nos jornais vários artigos sobre a mesma. O que estou a fazer é um pouco reinventar mas as motivações mantém-se e prendem-se sobretudo com a manutenção dum património e dá-lo a conhecer.
O Paço de Calheiros tem uma componente história de família, posicionamento na região onde se insere, no fundo reinventamos a vitalidade do espaço e colocamos em prática o que sempre foi feito.
São também estes valores que a minha mulher e eu passámos aos nossos 3 filhos e desde pequenos.
A passagem de cada geração é no sentido de fazer perdurar no tempo a casa no seu significado mais amplo e indivisível. Toda a minha vida decorre no sentido de preparar também o futuro.
Esta ideia de Associação para ajudar a preservar um espaço tem sido positiva, presumo?
Neste momento não dispensamos o movimento do turismo. Actualmente já se consegue uma auto sustentabilidade. Para o próximo ano já temos um número de reservas importantes vamos ver o que nos reserva o futuro.
Temos que ponderar sempre as várias facetas desde a recuperação, restauro, animação, criação de infraestruturais diversificadas, organização interna e a formação de pessoas para trabalharem connosco e assim prestarem um serviço que entendemos deve ser de muita qualidade.
Planos para um futuro próximo?
Estamos a desenvolver uma ideia de formar também uma rede de jardins ligados às casas. Promover o desenvolvimento de circuitos turísticos que tenham como principal objectivo os jardins.
Esta reportagem foi publicada na revista Tudo Sobre Jardins do inverno de 2008.