Matilde Jézéquel, arquiteta paisagista
Matilde Jézéquel, arquiteta paisagista
Durante a nossa visita a Londres em Maio, tivemos o prazer de conhecer a arquiteta paisagista Matilde Jézéquel, licenciada em arquitetura paisagista no Instituto Superior de Agronomia (Lisboa). E desde a revista impressa Tudo Sobre Jardins nº41 colaboradora na rubrica Crónicas da Matilde. Conversámos um pouco sobre as suas aspirações e a sua experiência profissional até agora, nomeadamente na implementação de um dos jardins no prestigiado RHS Chelsea Flower Show.
Conta-nos um pouco do início dos teus estudos académicos e o porquê escolheres arquitetura paisagista?
De início estava inclinada para agronomia, mas dei por mim a averiguar os outros cursos que o ISA lecionava (pois queria muito ir para esta faculdade, que é um encanto) e descobri por acaso o curso de Arquitetura Paisagista, pelo qual me apaixonei de imediato. Aliar a arte com a natureza pareceu-me uma junção perfeita e muito interessante.
A minha experiência até agora não podia ser melhor, pois aprendi imenso. Tive a oportunidade de integrar projetos em todas as fases: participar em encontros com clientes, criar os primeiros conceitos, desenhar todo o género de planos necessários (plano de plantação, de pavimentos, de luz, de irrigação e detalhes de construção), e acompanhar também o percurso da obra, ajudando até em algumas plantações.
Gostaria que destacasses alguns pontos fortes e aspectos que aches que devem ser melhorados em relação ao curso de arquitetura paisagista do ISA (Instituto Superior de Agronomia).
O ISA é uma faculdade maravilhosa para se estudar: 100 Hectares com jardins, vinhas, pomares, cavalos, edifícios do séc. XIX e até uma reserva botânica. Não pode haver melhor ambiente para se estar ao longo dos 5 anos de curso. Para além do mais, temos professores muito bons em áreas distintas, desde a botânica, vegetação, projeto, ordenamento do território, entre outras. No entanto, parece-me que um dos desafios mais interessantes para um futuro próximo, face ao historial e às capacidades que a universidade tem, seria uma melhor articulação entre o mundo académico e o mundo profissional (através de mais estágios, projetos em parceria com câmaras ou ateliers, convidar mais profissionais da área) e dar a conhecer novas abordagens e ideias (nacionais ou internacionais) em que podemos trabalhar, estimulando neste sentido, um lado mais prático.
Conta-nos como é que foi o percurso desde que acabaste os teus estudos e porquê é que escolheste Inglaterra como destino.
Assim que acabei o mestrado queria sair e aprender num outro país. Tinha muito a ideia de Inglaterra pois comecei a interessar-me imenso pelo garden design, que se especializa em projeto de espaço privado, com um grande detalhe na vegetação. E Inglaterra é um dos melhores países para o aprender (e sobre plantas, para quem adore!), com uma cultura de jardins e de paisagistas exemplar. Candidatei-me para um estágio (através do programa Erasmus) de 6 meses num atelier perto de Londres. Após terminado, ofereceram-me contrato para continuar a trabalhar.
Conta-nos como é que tem sido a tua experiência até agora a trabalhar em Inglaterra e descreve um pouco a metodologia de trabalho na empresa onde estás.
A minha experiência até agora não podia ser melhor, pois aprendi imenso. Tive a oportunidade de integrar projetos em todas as fases: participar em encontros com clientes, criar os primeiros conceitos, desenhar todo o género de planos necessários (plano de plantação, de pavimentos, de luz, de irrigação e detalhes de construção), e acompanhar também o percurso da obra, ajudando até em algumas plantações. Mais recentemente, desenhei um telhado em Londres e um jardim contemporâneo de uma família inglesa. Além disto, estivemos presentes no Chelsea Flower Show deste ano, o que foi uma experiência extraordinária, já que se trata de um dos festivais de jardins mais conhecidos da Europa.
A médio longo prazo quais são os teus principais objetivos?
Quero muito continuar aqui em Inglaterra para já. Agora vou trabalhar para outro atelier em Londres, onde quero aprender mais, mas também para poder desfrutar das paisagens, parques e jardins infindáveis deste país! Quando sentir que já aprendi o que queria, volto para Portugal para continuar a trabalhar no que gosto. Acredito que há muito potencial para desenvolver na nossa área, face às exigências de uma sociedade que se pretende cada vez mais ecológica, sustentável e preocupada com o meio ambiente.
Que conselho é que darias a quem quer enveredar pela arquitetura paisagista em Portugal?
Em primeiro lugar, está no bom caminho! Depois é tirar o máximo partido daquilo que se aprende na universidade, mas não ficar por aí: aproveitar outros encontros que existem um pouco por todo o país; visitar jardins, parques e estar a par de projetos que existam em Portugal, mas também no estrangeiro. Assim que se perceber o que mais nos motiva, ir em frente, aprender noutro país se for preciso e continuar a trabalhar no que se gosta. A arquitetura paisagista é uma área de futuro, com um papel cada vez mais importante na sociedade atual. Contribui para a preservação e criação de novas paisagens, e também para um novo planeamento das cidades, partindo de um conhecimento profundo dos recursos naturais ecológicos aliados ao desenho criativo projetual.
O entendimento da paisagem global com os seus jardins, com os seus percursos de recreio e com a sua produção é evidentemente o Éden do futuro (Gonçalo Ribeiro Telles).